Tuesday, June 3, 2008

La dolce internet

Somos mesmo engraçados. Penso que existe uma característica que, acima de todas as outras, nos permite continuar a existir. A capacidade de continuamente nos enganarmos a nós próprios. Podem-me chamar agora um pequeno pequenito Rosseau, mas vou explicar. Temos sempre e a ideia (quase inconsciente) de que estamos sempre evoluir, o maravilhoso caminho do progresso. Mas será que é mesmo assim? Ou o progresso só tem um único vértice? Vejamos bem esta última década:

- A explosão da era digital, o boom tecnológico com um crescimento exponencial em praticamente todos os países desenvolvidos que trouxe inúmeras vantagens inegáveis (a generalização do acesso à informação, a facilidade e baixo custo de acesso e transmissão da informação, etc.).

No entanto, as consequências são sempre mais vastas. Temos, on the other hand, uma geração de miúdos que passa a vida em casa e a jogar computador (da qual eu fiz e faço parte). Na Internet somos o que queremos ser, quando queremos ser e por quanto tempo o quisermos ser. As relações tornam-se virtuais, são facilitadas. É este o encanto inicial. Existe, de facto, um gap abismal entre as crianças que nós fomos e que os nossos filhos vão ser, e as que os nossos pais e avós foram. A nossa geração marcou pela primeira vez esta diferença. Com a Internet, como disse atrás, a tendência é para facilitar. Falamos com os amigos no MSN, jogamos com eles pela Internet, vemos filmes no computador, fazemos as compras pela Internet, aprendemos e estudamos na Internet, vamos ao banco na Internet e, no final, acabamos por dar a um mundo que objectivamente não existe, uma conotação real. A tendência final e que parece utópica (mas é já quase realizável), será poder fazer tudo a partir de casa até que, não precisemos mais de sair.

Mas nós não somos feitos para viver em casa, desligados do mundo e ligados a um server, despegados das relações que verdadeiramente importam. Perdemos literalmente horas e horas por dia, em que realmente não fazemos nada em frente ao computador. Sendo assim, o computador perde a sua função útil e de facto, muito valiosa; para passar a ser um instrumento que apenas consome tempo e nos isola da nossa vida real.

A parte mais triste disto, é que nós sabemos disto. Mas como sempre, enganamos-nos a nós próprios. Pensamos, mas hoje em dia é assim; toda a gente é assim, logo não tem mal. Esta sempre foi a nossa justificação universal para aceitar algo que está errado; se todos fazem, é porque está correcto. Mas não. Não está correcto. Eu tive que viver um ano sem Internet para chegar à conclusão que ela não faz absolutamente falta nenhuma na minha vida. Em vez de acordar de casa e ir ver o email, eu acordo de casa e leio um pouco ou vou dar um passeio. Sendo objectivo, em quinze minutos por dia faço tudo o que tenho a fazer na Internet. Mas, quando cá venho, não passo apenas quinze minutos. Passo ao invés horas, a ver o que já vi, a procurar vídeos no youtube que não me servem de nada, a manter a minha mente distraída e desocupada, vazia. E a verdade, é que quando estou em casa não consigo não ir à Internet.

Isto é assustador, e ainda mais assustador, é (desta vez) não vermos isto. Não conseguirmos ver que a nossa vida não precisa disto, e que poderia ser muito melhor se balançarmos as coisas de outra maneira. Mas parece que já agora não conseguimos. Agora, tudo isto ainda é tolerável e aceitável porque possuímos ainda o contraste de duas gerações que se equilibram neste aspecto, e porque tudo isto é novo e parece ainda inofensivo. Hoje, os jogos online ainda são associados aos miúdos, no futuro, tenho a certeza que isto vai ser diferente. O problema vai estar em destaque, quando chegar a altura e formos nós os avozinhos, mas, em vez de estarmos a jogar dominó e a fazer batota no parque, vamos estar a teclar no MSN e a jogar Counter-Strike Deluxe edition 2060.

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