Monday, March 31, 2008

movimentos cíclicos



O sol está como nunca. Os dias passam mas, desta vez, no telhado da Luise. Hoje éramos sete. Nós sem t-shirt elas de Bikini. Continuam as minhas loucas sessões de cinema, assim como as de diabolo (ver foto). Nightmare before christmas, Elephant man, Eyes wide shut(again), Full metal jacket, Manhattan, There will be blood, etc. Começou a minha nova panca por batidos. Ontem foi bem espesso e de morango. Voltaram os meus colegas de casa, e com eles, uma nova vida na nossa casa. Recomeçaram as sessões de guitarra a alto e bom som. Voltou muito do que pensava já ter passado. Tudo volta eventualmente, mesmo que esteja, ou não, agora modificado. Voltou também a universidade, mas já nem essa custa. Voltaram as horas de socialização nas praças mais alternativas. Hoje foi em St. Ambroggio. Muito me preenche. Nada me cansa. Tudo me estimula.

Ao fim de semana é quase impossível para mim vir à net. Durante a semana contem com mais uns posts.

Musica do dia: Fatboy Slim - Brimful of Asha (Cornershop) Remix

Wednesday, March 26, 2008

They fuck you up

Esta é dedicadíssima. Ironia das ironias, foi o meu pai (a quem dedico), que me mostrou este poema. E isto diz tudo sobre a nossa relação. Não o poema, mas a acção. Percebam primeiro isso. Confuso? Como sempre. No entanto, e por outro lado, o poema esclarece.


They fuck you up, your mom and dad
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.

But they were fucked up in their turn
By fools in old-stylen hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another's throats.

Man hands on misery to man
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can
And don't have any kids yourself.


- Philip Larkin (1922-1985)

Tuesday, March 25, 2008

Sabres de Luz



Pois é, minha boa gente. Tive durante alguns dias ausente, mas, como sempre, existe um bom motivo. O meu pai chegou sexta-feira a Florença e, se antes já quase não vinha à Internet, esta semana vim ainda menos. Estou sozinho em casa por uma semana visto que os meus novos amiguinhos voltaram láprá' terra deles para passar a bela da páscoa. Fiz as jantaradas do costume, vi muitos filmes, ouvi muita música e viajei (a foto foi tirada em Siena). Arranjei mais o meu quarto e agora ele está realmente um espectáculo. Nunca tive tanto gosto ao estar em casa, e muito menos tive antes, tanto gosto em decorar o meu quarto (QUE PUSSY). Agora estou na biblioteca enquanto o txico está a estudar. Está um velhote à minha frente a ver um filme do Star Wars. Estou portanto, a escrever um mail ao som de uma (muito audível) luta de sabres de luz (acho que o velhote vai ficar surdo com o volume dos fones). Não sei porque vos contei isto, mas acreditem que está um cenário bastante bizarro. O velhote tem mesmo aquele ar de quem se vai levantar no final do filme, lançar um grito de guerra alemão e, docilmente, esfaquear-me o peito vezes sem conta com a sua faca Japonesa de cozinha (que lhe custou 270 euros) que está escondida no bolso de trás das já muito usadas calças de ganga. O que ele não sabe é que eu vou pisgar-me mesmo antes do filme acabar.

Sem duvida que esta cidade tem um efeito mágico sobre as pessoas. (Gostaram da passagem hmm hmmm?) Não há ninguém que não tenha adorado estar aqui. Mas é mais que isso. Quem cá está, sente-se realmente feliz e bem disposto. Eu vejo claramente isso. Poderá ser por escaparem um bocado à rotina, por esta cidade ser muito bonita, por esbanjarem dinheiro que nem uns animais. No entanto, eu acredito que é mais que isso. Esta cidade tem qualquer coisa. Qualquer coisa que mal se vê, quase não se ouve e raramente se cheira. Algo que só vemos quando já passou. Absorvermos tudo de maneira ininterrupta, insaciável, e sobretudo, inconsciente. Agora vou mas é sair antes que este velho louco me salte em cima.


Musica do dia: Belle & Sebastian - Piazza, New York Catcher

Thursday, March 20, 2008

Telhado


Os bons tempos continuam. Agora os meus dias são mais ou menos isto: Almoço e sessão de diabolo em santa croce a apanhar sol, sessão cinematográfica ou ginásio, fazer jantar para o pessoal e depois sair. Ontem foi mais ou menos isto. Depois de Sta. Croce, fui tomar um café com a Luise. Depois fomos até minha casa e ela, como sempre, decidiu aventurar-se pela casa. Subiu ao sótão e num pulo, arranjou o escadote, saiu pela janela e foi para o telhado. Claro que eu tive que ir. Apesar de isto ser um blog, eu tento ser minimamente sincero. Fui cheio de medo e ela, a chorar de tanto rir (e a fazer os possíveis para eu ficar com cada vez mais medo). Lá cheguei ao telhado. Aquilo é inclinado como tudo e uma queda dali… acreditem que não deve ser das coisas mais agradáveis. Mas a vista, meus amigos! Que vista incrível. Ficámos lá a apanhar sol. Já a noite tinha chegado e nós ainda lá estávamos. Chegou outro amigo nosso e, com ele, o francês que mora comigo. Os tons de roxo já assombravam toda a cidade. Nós, bem cá em cima, contemplávamos. Fumámos e riamos os quatro. Uma alemã, um bósnio, um francês e um português ficavam momentaneamente em silêncio enquanto olhavam e pensavam, cada um para si, provavelmente o mesmo. Num simples telhado de um velho prédio, em Florença. Decidimos ir comer. A Luise fez a melhor das pastas que alguma vez comi, apenas com cogumelos. Não estou a exagerar. Vinho, velas e boa musica. Há alturas em que simplesmente, não dá para estar melhor.


Musica do dia: Pixies - Debaser

Wednesday, March 19, 2008

Boas Novas



escrevo sem acentos porque estou no pc da biblioteca.

Nao sabia, mas graças ao one and only, gigante entre os enormes, Mr. entre os senhores, Joao Vasco Lopes, ja podem comentar sem se registarem. Ou seja, ja podem insultar, destruir, denegrir, mandar a baixo, etc, com toda a vontade e deleito, usando nomes anonimos e coisas do genero. Eu tenho é um tracer (sitemeter.com) que me diz onde voces moram e todos os dados da vossa ligaçao. Depois quando voltar a Portugal corto-vos a cabeça ou desfaço-vos em pedacinhos usando ainda, o que resta dos vossos inactivos miolos para uma bela, e suculenta, omelette du fromage.

Tuesday, March 18, 2008

Ciao!

Mas se há coisa que não percebo, é isto.


Uns dão três, uns dão dois, uns apenas um. Outros até, não dão nenhum. É sempre variável e parece não haver regra. Ou então, se houver, existem pelo menos, muitas excepções. Agora é a altura que vocês perguntam, mas de que é que este gajo está a falar?

Dos beijos, meus amigos, dos beijos. Quando se conhece alguém aqui é sempre muito estranho. Nunca sei o que fazer. Se aproximo a cara, corro o risco de a rapariga me estender a mão, afastando-se (sem tentar minimamente disfarçar) com um ar muito insultado. Não poupam no embaraço. Se estendo o braço para cumprimentar, fazem-me um olhar frio como quem diz “quem é que este tipo pensa que é?!”. Se vou a dar dois beijos, existem sempre aquelas idiotas que dão três (mas porquê três?!) ou então os que se acham finos e só dão um. Eu sou sempre um palhaço e nunca deixo que façam pouco de mim (continuam a fazer), então, se me dão só um beijo eu digo, non! Due! E dou dois forçadíssimos. Resta referir que, durante as próximas seis horas, a rapariga passa a manter um perímetro de segurança mínimo de dez metros. Depois há ainda a cereja no topo do bolo. Os meus amigos italianos. Esta espécie rara, julga que lá por sermos bons amigos, podem já passar o limite máximo (e inviolável) da masculinidade. Assustado será no mínimo, o termo mais suave para descrever a minha expressão, quando, após estender a mão para o típico e saudável aperto de mão, o tipo aprochega-se e dá-me dois beijos.

Enfim, acho que vou passar a acenar.

Sunday, March 16, 2008

Papilas Gustativas

Voltei para Florença com um objectivo principal, o de conhecer mais gente. Não queria habituar-me às coisas que já conhecia e continuar a dar-me só com as mesmas pessoas. É necessário um esforço para inverter a tendência natural das coisas. Até agora acho que não poderia estar a correr melhor. Ontem devo ter tido um dos meus melhores dias aqui. Apetecia-me escrever algo sensato, memorável, mas não estou minimamente para aí virado.


Posso, e vou, dizer-vos que estou a comer um belo de um cheesecake, com pequenos morangos minuciosamente cortados no topo. Ao lado da imponente fatia (mesmo!), está um denso suco de frutos silvestres. Misturados, todos estes elementos, provocam o derradeiro deleito do paladar. Enquanto o sabor macio e suculento da massa, que se apresenta uniforme com a bolacha da base, mostra todo o seu potencial; os morangos, por sua vez, dão o essencial toque, refrescante e natural. Toque este que acaba com toda e qualquer (remota) possibilidade de este bolo se tornar, eventualmente, enjoativo. Depois de vos ter contextualizado, resta referir o último, mas não menos importante, facto relevante. Quando ingerido, este bolo não é mastigado de maneira rude, bruta, ou até castiça. Este bolo, pelo contrário, é simplesmente dissolvido. Imediatamente estimuladas, as papilas gustativas (sejam elas filiformes ou circunvaladas) passam imediatamente uma mensagem inequívoca ao cérebro: “Que maravilha”.

Friday, March 14, 2008

Mudança


O sol voltou, e com ele, as praças transbordam novamente. Florença, amarelecida, acolhe todo e qualquer estranho. Continuam as filas quase militares de turistas chineses e as pitas americanas de dezassete anos que se metem connosco enquanto fazemos diabolo. Voltaram as noites memoráveis. Continuam as histórias que me parecem intermináveis, inesgotáveis. Não poderia estar melhor na casa nova. Fomos às compras ao IKEA. Também não posso explicar o quanto aquilo me fascinou, embora gostasse de o fazer (prefiro no entanto não vos massacrar ainda mais com as minhas teorias). Adoro os meus novos companheiros de casa. O francês é desarrumado, toca muito bem guitarra, fuma, é muito calmo e sereno. Isso vê-se especialmente na sua engraçada maneira de falar. Hoje deixou um pequeno caderno aberto no chão. Estava escrito a lápis e com uma caligrafia descuidada, com aquilo que me pareceu ser o início de um poema. Achei bastante bonito apesar de não o compreender. Há tanto por descobrir. Ainda bem que mudei.

Wednesday, March 12, 2008

Erasmus - Part I




Antes de iniciar este blog devo avisar que, este deve, e poderá bem ser, de difícil leitura. Não só pela falta de arte e engenho do autor, mas também por ele próprio retratar um tema que é por si só, confuso, estranho e indefinível.




Parto novamente de Lisboa. No entanto, hoje ela está mais cinzenta, mais fria. Mais triste do que nunca. Parto sem o sabor amargo de uma despedida. Parto como quem vai, e não volta.

Passou meio ano desde que comecei o meu erasmus em Florença. Inicialmente iria ficar meio semestre mas acabei por ficar um ano. Aqui começa a segunda parte do meu Erasmus. Mesmo que quisesse contar todas as histórias do primeiro semestre isso seria impossível. Faço então um resumo do que para mim foi, e tem sido, o erasmus até agora.


Nunca gostei das pessoas que dizem que para compreender uma determinada coisa temos que passar por ela. Não acho que sejamos assim tão [LIMITADOS]. No entanto, sou levado a reconhecer que com o Erasmus (como me tinham dito), a coisa funciona um pouco assim. Cheguei precisamente a 15 de Setembro. Todo eu era vontade, ingenuidade e especialmente, muita inexperiência. Sempre fui aquele puto mimado que nunca mexeu uma palha, nunca descascou uma cebola e nunca tratou de nada sozinho. Rapidamente percebi que, ou mudava, ou o meu Erasmus seria no mínimo uma grande catástrofe. Felizmente e após algum esforço, fui fazendo um pouco pela vida.

Demorei um pouco no início mas rapidamente criei hábitos. Comecei a lidar com a adversidade e tomei um gosto especial na aprendizagem. Tive problemas de todo o tipo: - Casa num c@0$, senhoria que nos tentava roubar a todo o custo, problemas nas equivalências da faculdade, péssima gestão do dinheiro, inexperiência doméstica aguda (só lavei a minha roupa depois de um mês, quando já não tinha qualquer peça de roupa disponível), chatices com uma das raparigas com quem morava, sofrida paixão por uma super modelo, perda do B.I. A lista podia continuar até ao fim dos meus dias. Para ajudar à festa, tudo isto aconteceu na primeira semana. O choque que se abate sobre nós é inacreditável e na altura, apesar de completamente previsível ele é também, completamente inesperado. É irónico quando vejo que na altura me julgava preparadíssimo para o Erasmus.


Os meses passaram a correr e as coisas foram melhorando (será que sim?). Fazia um esforço por conhecer pessoas novas e, se fossem do sexo feminino, melhor ainda. Setembro passou sem eu dar por ele. Outubro, Novembro e princípios de Dezembro seguíram-se como os meses de maior festa. Festa diária, alimentada pelo habitual e famoso combustível (whisky cola ou vodka limão), que chegou a fazer-me passar duas semanas sem ver a luz do dia (depois do meu primeiro exame dia 28 de Novembro, no qual tive 28 em 30 e senti uma exagerada necessidade de celebrar).


Nunca fui aquele rapaz que ia muito às aulas. No entanto, estudei sempre (e bem!) para todos os meus exames. Consegui um aproveitamento bastante positivo, melhorei bastante na língua e fui, aos poucos e poucos, muito lentamente, alcançando um maior equilíbrio entre uma vida pouco saudável e uma vida minimamente sana. Descobri novas pessoas, novos pratos de cozinha, novas raparigas, novos amigos, novos sítios. Descobri um pouco mais de mim próprio. Apaixonei-me por Florença e senti que estava a viver mais, senti-me renovado, senti-me como nunca. Senti-me simplesmente feliz.


Não caiam no erro de pensar que eu sou agora um miserável infeliz que rasteja por entre as mais ínfimas ruas da amargura fazendo da lama o seu cálice mais sagrado. Nada disso. Lembrem-se que estamos só em retrospectiva.

Voltei em Dezembro. Foi espectacular. Tive com todos os meus amigos e entre nós, foi como se o tempo não tivesse passado. Após grande conversa com os meus pais, acabou por ficar decidido que ficaria um ano. Mais uma vez, os meus maravilhosos pais cederam e confiaram em mim, apesar de não terem especial razão para o fazer. Desta vez provei que tinha razão e, quando voltei, fiz as minhas três ultimas cadeiras nas quais tive 30/30 e nas outras 28/30. Dois dos meus grandes amigos visitaram-me e foi como reviver um pouco de Lisboa. O primeiro semestre acabava. Alguns dos meus melhores amigos iam-se embora e com eles, um pouco de mim. Novamente quando não esperava, desabaram sobre mim mil problemas. Senti-me completamente desmotivado e deprimido. Passados dois dias e depois de algum esforço, tinha praticamente resolvido tudo o que, apenas dois dias antes, me parecera impossível de ultrapassar.


Voltei, um pouco cansado, a Portugal. Encontrei, ao contrário de quando voltei no Natal, uma Lisboa mais cinzenta. Durante esta semana identifiquei-me menos com os meus amigos (salvo raras excepções). Reparei que aqui tudo continuava igual e que as pessoas dedicavam a maior parte do seu tempo a questões que, a meu ver, não tinham realmente importância ou valor. Senti falta das jantaradas sem grandes formalidades e custou-me ouvir o tradicional “almoçaste hoje? Não chegues tarde”. Senti-me preso, mais cansado e senti que aqui, dava menos de mim. Estou neste momento no comboio para o porto, onde vou apanhar o avião para Florença. Sem saber bem porquê, decidi agora escrever. Finalmente consegui, após inúmeras tentativas e alguns meses de inactividade total.


Parto, tal como da primeira vez, cheio de vontade e com mais alguma experiência. Tento no entanto, não cair novamente no erro de pensar que vou preparado. Sei que não vou. E, sinceramente, espero não ir. Espero aprender mais, ser surpreendido e passar maus bocados. Espero também ser forte o suficiente para os conseguir superar. Espero pelas longas noites com os meus novos velhos amigos. Vou feliz e aberto para tudo o que vier, vou expectante e descansado. Erasmus, part II,

venha ele!